SOBRE O SALMO 133
“Oh! quão bom e quão
suave é que os irmãos vivam em união.
É como o óleo precioso
sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Aarão, e que desce à orla
das suas vestes.
Como o orvalho de
Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena
a bênção e a vida para sempre.”
Salmos 133 – Bíblia
Sagrada - Tradução ACF
Conhecido como o “Salmo da verdadeira União”, o salmo 133 é no dizer do Ir. Valdir Fernandes (Revista Trolha, out. /99 p.8.) é uma eloquente descrição da beleza do amor fraternal. E sua leitura nas reuniões de grau de aprendiz, para os ritos que adotam o Livro da Lei representado pela Bíblia, reveste-se de transcendental importância, uma vez que simboliza a presença efetiva do S∴A∴D∴U∴, além de marcar o início real dos trabalhos em loja.
Composto por três versículos, que sugestivamente fazem referência ao
número três que domina o grau de Aprendiz, tanto em sua bateria, marcha, idade
e passos; o salmo 133 nos apresenta os benefícios e frutos da vida em
fraternidade.
No primeiro versículo vemos o salmista fazer referência a um “viver
em união”, que se difere do “estar simplesmente unidos” ou “reunidos”.
Uma irmandade de fato, como vemos em algumas traduções da Bíblia.
“Vede: como é bom,
como é agradável habitar todos juntos, como irmãos.”
Salmo 133, Bíblia de
Jerusalém
Ou,
"Oh, como é bom,
como é agradável para irmãos unidos viverem juntos."
Salmo 132, Bíblia Ave
Maria
Vemos que, independentemente da tradução, esse versículo é um apelo à
fraternidade, não como mera associação de seres humanos, mas como o espírito
que exala desta união, ou seja, o espírito da harmonia, da paz, da amizade, da cordialidade,
do afeto, da concórdia e da união. Virtudes oferecidas pela Confraria e que se
traduz na congregação dos irmãos que buscam viver em verdadeira harmonia e em
verdadeira união fraterna.
Assim como o “Pavimento Mosaico” presente no centro da parte
ocidental de nossa loja, que com seus quadrados brancos e pretos representa a harmonia
que precisa reinar independente de nossas diferenças de classe social, credo, cor
ou raça.
Assim como a “Corda de Oitenta e Um Nós” que representa o
entrosamento e a unidade da harmonia alcançada.
Assim como as “Romãs da Amizade” sob as colunas do ocidente, cujos
grãos, muito unidos, representam a Solidariedade da família maçônica e o desejo
da Prosperidade de todos os integrantes dessa Sublime Ordem.
O salmo 133 declara o quão bom e quão suave é viver os benefícios da
união de harmonia e de fraternidade.
“É como o óleo
precioso sobre a cabeça...”
No segundo versículo o salmista compara essa união do qual falamos ao
óleo precioso utilizado na unção e consagração dos sacerdotes. Onde nesse
processo era confirmada a bênção e a eleição de Deus sobre aqueles que tinham a
responsabilidade de manter o povo em comunhão com Deus e em comunhão mútua.
O derramar do óleo sobre a cabeça, sede da inteligência e dos
sentimentos mais elevados, é a descrição explicita de Davi da sacralidade desse
ato e é um incitamento ao S∴A∴D∴U∴, para que Ele nos ilumine e nos inspire a termos uma
vida de amizade autêntica, pura, desinteressada, solidária e consoladora.
“...que desce sobre a
barba...”
Além da sacralidade do óleo que nos é derramado, vemos Davi ao citar a barba,
símbolo de honradez, probidade, poder e dignidade; que faz a alusão ao respeito
que devemos ter pela graça de pertencer a essa sublime ordem e de vivenciar a gratuidade
da Fraternidade entre os irmãos.
“...a barba de Aarão...”
Arão era o irmão mais velho de Moisés, primeiro sumo sacerdote dos
judeus, profeta associado ao ideal de paz e concórdia. Ao citar o seu nome,
Davi demonstra que o derramamento de óleo era um ato reservado a escolhidos.
Assim como o nosso pertencimento a esta instituição.
“...e que desce à orla
das suas vestes...”
As vestes nesse trecho representam o nosso corpo físico, a nossa parte
externa. Onde o óleo precioso (Energia Divina), antes de encharcar nossas
vestes (nosso corpo), é derramado sobre sua cabeça (receptor das manifestações
vindas da presença de Deus) e a barba (sinal de maturidade), até à orla dos
seus vestidos (que são as emanações que se distribuem por todo o nosso corpo).
“Como o orvalho de
Hermom...”
O Monte Hermon assinala as divisas entre os países de Israel, Líbano e
Síria. E pela sua altura, de 2814 metros, seus picos estão permanentemente
cobertos de neve. Nas regiões desérticas, a evaporação da umidade concentra-se
nas montanhas e retorna durante a noite sob a forma de orvalho, suprimindo
assim a falta de chuvas e propiciando as condições para uma boa colheita e
dando com isto, as condições para a fixação do homem a região. Se não fosse o
monte Hermom a região seria desértica e árida.
Além disso, o degelo da neve do Monte Hermon é fonte alimentadora do rio
Jordão que abastece toda a região, irrigando o solo palestino e trazendo com isso
o alimento (benção) para o povo. O Monte Hermon, na visão do salmista Davi é, através
do seu orvalho, sinal de vida. E por ser considerado sagrado pequenos templos
religiosos eram construídos em suas encostas e até no seu cume.
Segundo Castelani, o Monte Hermon, pelo seu fornecimento de madeira para
a construção de navios, pelo seu caráter sagrado, pelo seu orvalho que descia
sobre toda a Palestina irrigando suas terras, era, sem dúvida na antiguidade, a
mais famosa e importante montanha da região.
“...e como o que desce
sobre os montes de Sião...”
O Monte Sião tem aproximadamente 800 metros de altitude! Daí, portanto a
expressão “… descer sobre Sião” querendo dizer “sobre as colinas de
Sião”.
Sião é associada a Jerusalém em mais de 179 passagens na Bíblia. Como nos
salmos 87:2, 51:18, entre os outros trechos do novo e antigo testamento.
Por exemplo no Salmo 125:1-2 onde encontramos uma bela referência a este
respeito:
“Os que confiam no
Senhor são como o Monte de Sião que não se abala, mas permanece para sempre.
Como estão os montes à volta de Jerusalém, assim o Senhor está em volta do seu
povo desde agora e para sempre.”
No livro de 2 Samuel, nos capítulos 5 e 6, vemos o episódio conquista da
fortaleza de Sião por Davi e seu exército, o transporte da Arca da aliança e a construção
de um Tabernáculo para que a Arca habitasse. Com isso Sião tornou-se a “cidade
do Senhor”, local da Sua morada e local do seu repouso.
“… este é o meu
repouso para sempre; aqui habitarei, pois o desejei.”
Salmo 132;13-14 –
Bíblia Sagrada - Tradução ACF
Com a presença da Arca da Aliança, Sião tornou-se a capital religiosa
dos Israelitas, um lugar santo, sagrado, conforme se absorvemos da leitura do
Salmo 154.21 que nos diz:
“… bendito seja o Senhor
desde Sião que habita em Jerusalém”.
Vemos no salmo 133 Davi comparar o óleo descendo sobre a cabeça de Aarão
com o orvalho que desce sobre Sião. Aarão que é sumo sacerdote, o chefe
religioso da nação israelita e a “cabeça” espiritual do povo hebreu, com
Sião que é a capital espiritual de Israel.
O orvalho sobre Sião é a água que, além de purificar, torna possível a vida ao redor de Jerusalém. É como o óleo (água) caindo sobre Aarão (Jerusalém) porque ali em Sião, (Deus), o Senhor (representado pela Arca da Aliança) havia ordenado a Sua benção a seu povo para sempre.
Conclusão:
Para Davi a união entre os irmãos deve ser o penhor de prosperidade e de
satisfação. E o Salmo 133, que é alusivo à concórdia, nos ensina que é bom,
suave, que os irmãos vivam em união assim como é agradável sentir a sensação do
santo óleo escorrer pela fronte. Tanto o óleo, como o orvalho que têm o mesmo
sentido. Ambos vindo do alto, do céu, do Senhor. Para cair, se entender a nós,
como se não houvesse obstáculo, pois a amizade, a fraternidade deve imperar
entre todos, sem reservas ou barreiras.
Assim, o Salmo 133, na verdade, é um simbolismo que está centrado num
segredo arcano de extraordinário significado e a Maçonaria, ao adotá-lo na
abertura das suas sessões, os irmãos não estão apenas contemplando a ideia da
Fraternidade pura e simples, mas realizando o objetivo cósmico de integração
total de todas as emanações da energia divina. Trata-se, na verdade, de um
mantra poderoso, uma âncora fundamental para o aliciar da energia cósmica
necessária para a formação da egrégora maçónica.
A nossa fraternidade ou aquela que entendemos como tal, não deve ter o
mesmo conceito do mundo profano. Pelo próprio fato de pertencermos a uma ordem
à qual juramos fidelidade, já é o bastante para torná-la diferente. Aqui o meu
vizinho é meu irmão e como o orvalho que cai sem obstáculo, assim deve ser
também a amizade: sem barreiras e reservas. Pois só assim fazendo, teremos a
certeza de que o Senhor fará derramar a vida e a Sua benção entre nós, para
todo o sempre.
Belo Horizonte – MG, 14
de agosto de 2023
A ∴ R ∴ L ∴ S ∴ Cinco de Julho II 378
IR ∴ A ∴ M ∴ Max Leandro Campos. CIM - 25519
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
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Grande Oriente do Brasil – São Paulo, 2009.
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Oliveira Filho, Denizart
Silveira de. Da Iniciação rumo à Elevação: Comentários às Instruções do Ritual
do Aprendiz Maçom do Rito Escocê Antigo e Aceito – 1. Ed. – Londrina: Ed.
Maçonica “A TROLHA”, 2012.
D’ Elia Junior, Raymundo.
Maçonaria : 100 Instruções de Aprendiz – São Paulo : Madras, 2019.
Bíblia Hebraica,
traduzida Por David Gorodovits e Jairo Fridlin – Editora e Livraria Sefer Ltda.
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Salmo 133 – A União
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O simbolismo dos números
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